Escrito e dirigido por Jean-Pierre Jeunet, O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, 2001) é considerado
um clássico do cinema francês. O filme conta a história de
Amélie (Audrey Tautou), uma menina que cresce isolada das outras crianças,
criada por pais rígidos e distantes. Com a morte prematura de sua mãe, seu pai
ergue um muro de isolamento ao seu redor, aumentando ainda mais a distância
entre si e a filha, que cresce solitária, confortada pelos sonhos e pela
imaginação. Tais acontecimentos influenciam fortemente o
desenvolvimento da jovem e a forma como ela se relaciona com as pessoas e com o
mundo depois de adulta, quando se muda da casa de seus pais, no
subúrbio, para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como
garçonete.
Certo
dia, porém, ela encontra no assoalho de seu apartamento uma caixinha com
brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo morador do apartamento. Resolve
procurá-lo e lhe entregar o pertence, anonimamente. Ao ver a reação do homem ao
reencontrar suas lembranças, Amélie decide que irá concertar a vida das pessoas
ao seu redor. Envolvida em pequenas aventuras, a fim de trazer conforto e
felicidade aqueles que a cercam, ela descobre um novo sentido para a vida. Ao
esbarrar em um rapaz no metrô, no entanto, acaba tendo que descobrir como
ajudar a si mesma na busca de algo que irá mudar seu destino: o amor.
Embora
em nada se assemelhe com os típicos filmes de super-heróis, a obra traz uma
história de heroísmo tão ou mais impressionante que as grandes produções
hollywoodianas. A protagonista, apesar de não ter nenhum superpoder ou lutar
contra poderosos vilões, realiza atos de bondade e coragem que mudam a
realidade em que vive. A obra, que trata da fragilidade dos tempos e da
delicadeza nas relações, mostra que há beleza e grandeza nos pequenos feitos, e
que qualquer um é capaz de fazer bem.
Assim como a jovem, nós também podemos nos
transformar em super-heróis. Como ela, não precisamos de nenhum poder especial
além de coragem e vontade de fazer o bem. Podemos nos tornar heróis de nossas
próprias vidas. E mudar o mundo que vivemos. Basta querer. Há certo momento do
filme em que uma personagem diz a seguinte frase: “São tempos difíceis para os
sonhadores”. Sim, são tempos duros para aqueles que ainda ousam sonhar, e é o
que faz com que continuar sonhando seja por si só um ato heroico. Para aqueles
que ousam viver o que acreditam, e vencem com leveza a dureza dos dias, o
heroísmo se faz realidade, e destino se mostra fabuloso. Tão fabuloso quanto o
de Amélie Poulain.
por Clara Fernandes